quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

uma cara feia me olhou bem de perto

por uma poça imunda meu pé pisou

olhei pra baixo, me distraí
e a cara feia me alcançou

corri bastante, mancando bem
tropecei e caí também

não teve jeito, não houve fuga

a cara feia me matou

sábado, 12 de janeiro de 2008

despedida

aqui me despeço e volto pra casa
aqui me desfaço e volto pra roça
aqui desenrosco e me esqueço da praça
assim, sem graça, desmancho uma poça

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

já não opto mais.
não opto nem opíto.
nem errar me deixo mais.
agora eu pertenço ao silêncio que só é rompido por um assobio.
disfarçado. displicente. um assobio falso
que não clama, nem chama, nem anima.
é um desabafo contido, envergonhado.
da impossibilidade.
assobio porque não sei cantar
assobio bem devagar esvaziando devargarzinho
um ar comprimido, triste, diferente dos outros
por entre os dentes ele se torna, mas dessa vez
parte do coração.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Lá do mosteiro
Ouviu-se um morteiro
Um tiro certeiro
Que feriu
Por inteiro
O coração
Da donzela
Que esperava tanto
O seu amado Monteiro
Ser o primeiro
A lhe pedir a mão

quarta-feira, 11 de julho de 2007

vou escrever uma poesia
xiiiii, não conta pra ninguém.
não quero que ninguém leia o que eu vou escrever, hein
e não quero que saibam que eu gosto dela
xiiiii, não posso dizer o nome, nem a cor do seus olhos,
jamais falarei da sua pele, do seu sorriso e do cheiro que eu sinto quando eu me aproximo do seu pescoço.
xiiiii, já não conto pra mim mesmo.
vou deixar bem debaixo do tapete, bem debaixo mesmo.
até eu esquecer dela. e pensar em qualquer outra por bons momentos.
e quando aquele pensamento, safado e esperto, que escapa do fundo e aparece
que nem uma lagartixa saindo do armário, e daí eu lembro que eu ainda penso nela,
aí sim vou sentar e escrever uma poesia, que fale dos seus olhos, da sua pele,
do seu sorriso e do cheiro que eu sinto quando me aproximo do seu pescoço.
xiiiii, por enquanto é segredo.

terça-feira, 10 de julho de 2007

jogar tênis nos fios
pode causar curtos circuitos
nos fios de cabelo
daqueles filhos que não têm mãe
pode causar curtos circuitos
nas sinapses
nos neurônios
e deixar
as mães
neuróticas

e por essa ótica
eu não enxergo
nada à minha volta
e quando volto
jogo meu tênis
no meio da sala
esqueço minha alma
pela escada
e repouso-me
sobre os fios de cabelo
que escondem
os curtos circuitos
que aparecem no caminho
daqueles meninos descalços

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Seu Migué costumava acordar cedinho
Fumar um cachimbinho
E tomar o seu café

Seu José
Lavorava de noite
Sempre com seu acoite
Preso na cintura
Pra quando aparecer qualquer criatura,
Ele poder açoitar

Dona Felisbina
Com muitas rugas no rosto
E alma de menina
Preparava o angu, cará e mungunzá
Pro Seu Migué poder almoçar

Vejam só que mocidade
Encontramos na alma de velhinhos dessa idade

Falam a filosofia da terra
A filosofia da guerra
Da luta de todo santo dia

Rezam a reza dos céus
A reza de Deus
Que às vezes penso que os esqueceu

Mas de dentro dos sulcos das suas rugas
Brotam a fé mais pura

E dos sulcos arados na terra
Brotam a esperança pura
De que um dia, se Deus quiser,
Germinará o amor e toda sua doçura

E que esqueçamos de toda essa loucura
Vivida pelos que não têm rugas na pele
Mas que têm sulcos profundos na alma